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Do entusiasmo à desilusão no Egito

26 de julho de 2011

Cinco meses depois da queda de Hosni Mubarak, as águas parecem de novo revoltosas no Egito. O analista sénior do International Crisis Group, Elijah Zarwan considera que os egípcios estão desiludidos com o rumo do país.

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Depois dos protestos que derrubaram o regime do ex-presidente Mubarak, os manifestantes voltam às ruas do Egito para exigir celeridade nas reformasFoto: dapd

Depois do derrube do presidente Hosni Mubarak, os egípcios deram um voto de confiança aos militares que ocuparam a governação do país. Mas o crédito desse voto parece estar a esgotar-se.

No último sábado, pelo menos 231 pessoas ficaram feridas após homens armados terem atacado manifestantes que marchavam em direção ao Ministério da Defesa no Cairo. Pediam a demissão do Conselho Militar que governa o país, quando foram atacados por pessoas armadas com facas e paus.

Esta não terá sido a primeira vez que manifestantes tentaram chegar próximo do Ministério da Defesa. E já antes, na cidade mediterrânea de Alexandria, a polícia militar havia disparado tiros para o ar e espancado protestantes que bloqueavam uma estrada principal.

As demonstrações têm dado sinais de violência, depois de duas semanas de protestos pacíficos, nas cidades de Alexandria, Cairo e Suez. Isto na sequência da decisão judicial que colocou em liberdade, sob fiança, dez agentes policiais acusados de matar manifestantes durante a revolta que derrubou o ex-presidente Hosni Mubarak.

A febre revolucionária é para durar

Ägypten Kairo Proteste
O entusiasmo dos egípcios durante a revolução parece transformado em desilusão face ao rumo do paísFoto: picture-alliance/dpa

Riadh Sidaoui, diretor do Centro de Pesquisa e Análise Política e Social em Genebra, Suiça, é da opinião que a “febre revolucionária poderá persistir meses ou até anos”, isto porque “existe uma profunda fratura no seio da sociedade egípcia e a solução é hoje de difícil previsão”.

O entusiasmo inicial da mudança parece ter dado lugar a “um crescimento do sentimento de desilusão”, afirma por seu lado Elijah Zarwan, analista sénior do International Crisis Group, organização não-governamental internacional orientada para a resolução de conflitos.

Elijah Zarwan considera que “o rumo que o país está a ter tem provocado insatisfação e encorajado as pessoas a voltar para as ruas.” Os manifestantes exigem “o julgamento dos antigos líderes do regime e de agentes de polícia acusados de terem morto manifestantes em janeiro e fevereiro. Eles apelam à destituição do Ministério Público que está próximo do regime de Mubarak”. Nos protestos exige-se também a saída do general Mohamed Hussein Tantawi, Presidente do Conselho Supremo das Forças Armadas, que na prática é “o atual de líder do país”, explica o analista político da organização International Crisis Group.

Militares são peças-chave no xadrez egípcio

O general Tantawi é considerado muito próximo de Hosni Mubarak e resistente a mudanças. O ex-presidente havia imposto, ao longo de 30 anos, um regime sustentado por um exército rico e poderoso, do qual Tantawi também fez parte.

O chave para o futuro do Egito parece depender da atuação dos militares de agora em diante. Elijah Zarwan refere que “a longo prazo a questão mais importante é o papel dos militares no próximo governo e na nova Constituição”.

Entretanto, a curto prazo espera-se o julgamento, a 9 de Agosto do ex-presidente Hosni Mubarak e do ex-ministro do interior, Habib al-Adly. São acusados de terem ordenado a morte de manifestantes durante a revolução no Egito. Durante esse período conturbado 840 pessoas perderam a vida.

NO FLASH Revolution in Ägypten
A detenção de civis começou a 25 de Janeiro no Egito. Durante a revolução estima-se que 840 pessoas perderam a vidaFoto: picture alliance/dpa

Autora: Mantegftot Sileshi/Glória Sousa
Edição: António Rocha