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Deslocados em Cabo Delgado: "Está tudo sob controle"

6 de novembro de 2020

O secretário de Estado de Cabo Delgado, norte de Moçambique, reconhece que há desafios para assistir os deslocados que chegam a Pemba, fugindo do terrorismo. Contudo, Armindo Ngunga garante que está tudo sob controle.

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Deslocados de Cabo Delgado - fotografia de arquivoFoto: DW/S. Lutxeque

Desde 16 de outubro, chegaram a Pemba, a capital de Cabo Delgado, cerca de 11.200 deslocados, de acordo com dados oficiais. As autoridades alertam para a falta de espaço para receber mais pessoas.

Ao todo, estima-se que cerca de 435 mil pessoas se deslocaram internamente, em busca de segurança, desde que os ataques dos insurgentes começaram em Cabo Delgado, em outubro de 2017. Com o recrudescimento dos ataques, Pemba recebe uma nova vaga de deslocados sem precedentes. 

À DW, o secretário de Estado da província, Armindo Ngunga, assegura que as autoridades estão a gerir bem a chegada destas pessoas. Diz ainda que "a situação não é a que aparece nas redes sociais".

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DW África: Pemba está a rebentar pelas costuras com esta nova vaga de refugiados?

Armindo Ngunga (AN): Sim, está. Em menos de um ano, Pemba tem um volume de 150% de população. Em 2017, Pemba tinha 224 mil habitantes, se não me engano, e ontem o presidente do município de Pemba dizia-me que há cerca de 105 mil deslocados. Portanto, é um crescimento de 50% da população num ano, e isso é muito para uma cidade, em todos os aspetos: traz pressão sobre os serviços básicos - água, saneamento... Tudo.

DW África: Então, há um risco de o sistema colapsar?

AN: Não, não vai colapsar porque temos um comité de gestão, estamos a criar novas aldeias, centros de reassentamento, estamos a criar infrastruturas nas terras, estamos a parcelar as terras, estamos a criar condições de água, saneamento, etc. Daqui a pouco as pessoas vão mudar, não vai colapsar não.

DW África: E como tem sido a assistência aos deslocados em contexto de Covid-19?

AN: É um desafio. Já tivemos momentos difíceis aqui em Pemba. A cidade foi declarada local de transmissão comunitária em junho, quando atingiu o pico. Mas, depois disso, fez-se trabalho, fez-se o inquérito epidemiológico, e hoje temos uma taxa de recuperação que varia entre 80 a 93%. Temos tido alguns casos maus. Apesar de ter estado a dizer que Pemba é o lugar mais seguro em termos de Covid-19, nós não fechámos as portas. Continuamos a receber gente de Maputo, de Nampula e de outras províncias. E não exigimos que as pessoas façam testes à saída, nem à chegada. Então, de vez em quando alguém traz a Covid-19. Nós vamos gerindo a situação, já não ficamos alarmados.

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DW África: Quais têm sido os desafios na assistência aos deslocados que chegam via marítima?

AN: Montámos uma espécie de clínica lá no ponto de chegada, montámos uma cozinha, estão lá os ativistas que têm as residências humanitárias, o nosso pessoal de saúde está lá. Quando as pessoas chegam, são recebidas. Em função da avaliação que se faz do seu estado de saúde, está lá uma ambulância estacionada, entram nela. Se estiver nos últimos dias de gravidez, [também é logo tratada]. Quando a pessoa está debilitada, esfomeada, cansada recebe uma alimentação básica, uma papinha com açúcar que ajuda a recuperar um pouco. Estamos a gerir [bem], a situação não é a que aparece nas redes sociais, a situação está totalmente controlada.

DW África: Aconteceu recentemente um naufrágio onde terão morrido mais de 42 pessoas. Confirma-se que os passageiros eram deslocados internos?

AN: Sim, era. Ainda não fizemos um inquérito para saber, mas aquele barco faz parte do grupo que traz pessoas a Pemba. São cerca de 15 a vinte que chegam todos os dias.

DW África: As autoridades têm controlo da situação nessas ilhas de onde saem as populações?

AN: Essas pessoas não são naturais das ilhas, são naturais da zona costeira que, por causa do problema do terrorismo, se refugiam nas ilhas. Mas nas ilhas não há condições para [tanta gente] ao mesmo tempo. Então, saem daí para sítios onde há condições.

DW África: Sobre Mocímboa da Praia, a primeira comissão da Asembleia da República preparou um relatório em que diz que a vila ainda está nas mãos dos terroristas. Confirma que a situação ainda não é das desejáveis para o Estado?

AN: Os terroristas têm feito estragos nalgumas sedes distritais desde março. O governo distrital está a funcionar fora do distrito. Com tanta destruição, não há condições para morar ninguém lá, nem há condições para se trabalhar nalgum escritório. Então, as pessoas estao fora do distrito. Haverá alguma população, mas na sede do distrito as pessoas não estão a trabalhar como tal.

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Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África