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Crime organizado em Angola

30 de março de 2011

A polícia nacional diz haver sinais concretos da existência de crime organizado em Angola e dos criminosos terem muitos contatos com o estrangeiro. Mas é injusto atribuir a maioria dos crimes aos emigrantes ilegais.

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Angola (aqui uma fotografia da capital Luanda) sofre uma "invasão silenciosa de redes criminosas internacionaisFoto: picture-alliance/ZB

O branqueamento de capitais, a concertada imigração ilegal e o tráfico de seres humanos são algumas das facetas mais notadas destes crimes.

O roubo de mais de 150 milhões de dólares, em várias fases, no Banco nacional de Angola é visto como um dos exemplos mais acabados, devido à conexão entre angolanos e estrangeiros para as transferências dos valores.

A polícia de investigação criminal de Angola diz ter um plano articulado para minimizar nas populações os efeitos destas formas de fazer comércio ou praticar crimes.

O sub-comissário Alberto Suana é o coordenador da área de crime organizado da polícia angolana: "Nós não podemos fugir à regra em Angola. E estamos dentro do conceito do que é definido pelas Nações Unidas, bem como pela SARPCCO (Comité de chefes de polícia da África Austral), aqui na nossa região austral de África."

Luanda Markt
O crime organizado tanto pode acontecer num roubo no Banco de Angola como num mercado popular de venda de roupa ou carne fresca.Foto: picture-alliance/ZB

O crime organizado é internacional

Nota-se também a forma como certos setores de comércio como a venda de carne fresca, venda de combustível e importação de roupa usada está nas mãos de grupos internacionais, com conluio de angolanos, segundo um parecer interno da polícia nacional.

A par da corrupção, há acusações de alguma proximidade de agentes policiais com estrangeiros ilegais, protegendo supostas redes de crime organizado.

Nos últimos tempos, especialistas angolanos e israelitas estiveram envolvidos num estudo sobre as tendências da emigração clandestina estrangeira. Os ilegais procuram Luanda, a capital e zonas de exploração de diamantes, sobretudo onde há pouca fiscalização.

Esta “invasão silenciosa” como as autoridades passaram a denominar, é dinamizada por redes nacionais e estrangeiras. Entram ilegalmente na sua maioria em Angola cidadãos oeste-africanos, libaneses e chineses. A DW ouviu a opinião de David Rocha, o inspector-geral do serviço de migração e estrangeiros: "Honestamente, os meus superiores têm assegurado da existência disto... mas em termos doutrinários e conjugado com a prática, eu tenho tido um certo receio... temos confundido muitas vezes a criminalidade organizada com a criminalidade individualizada".

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Em Angola há milhares de emigrantes ilegais que muitas vezes sobrevivem vendendo nas ruasFoto: Jule Reimer

Os criminosos teriam protecção "de cima"

O sociólogo João Paulo Ganga não tem duvidas: o crime organizado em Angola é protegido por altas estruturas do país: "O crime organizado na sociedade angolana é um facto de que existem indícios objectivos. Eu tenho algum medo do ponto de vista conceptual, e do ponto de vista sociológico, de falar excessivamente do caso da emigração estrangeira... senão damos a sensação que são os estrangeiros que estão a trazer o crime organizado. Nós também fomos estrangeiros na terra de outros, no processo de libertação e não só... e o país está de facto a sofrer uma invasão silenciosa. Há problemas estruturais muito graves em relação à emigração ilegal".

Autor: Manuel Vieira (Luanda) / Carlos Martins

Revisão: António Rocha