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Cidadãos dos PALOP concorrem às autárquicas em Portugal

29 de setembro de 2017

A DW África entrevistou alguns candidatos de origem africana que concorrem às eleições dos órgãos do poder local português. Conheça as propostas dos partidos.

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Painel de campanha do partido Bloco de Esquerda em LisboaFoto: DW/J. Carlos

Portugal vai a votos este domingo (01.10) para a eleição dos órgãos do poder local. As listas de alguns dos principais partidos políticos portugueses às eleições autárquicas integram vários candidatos africanos ou afrodescendentes dos países lusófonos, que ambicionam conquistar um lugar nas estruturas das câmaras municipais e juntas de freguesia.

Os candidatos africanos ou afrodescentes nas listas partidárias às eleições autárquicas têm objetivos bem claros: trabalhar em prol das respetivas comunidades. É esta a motivação de Manuel Duarte, que, já habituado ao movimento associativo, aceitou o desafio do Partido Socialista de Sines, na costa alentejana portuguesa. Uma das prioridades de sua agenda é a melhoria das condições de habitação da comunidade.

Gracinda Luz Movimento SIM
Gracinda Luz, do Movimento SIMFoto: DW/J. Carlos

"Nós estamos a ir ao encontro do público, aquelas coisas que as pessoas precisam no dia a dia. A última obra que se fez ali foi a Associação Cabo-verdiana e, provavelmente, daqui a algum tempo poderá nascer lá um parque infantil, que também está no programa para ser feito", afirmou em entrevista à DW África.

O programa inclui, por outro lado, ações para tentar minimizar o impacto da poluição ambiental causada pelas empresas petrolíferas. "Esse é um trabalho duro, porque é a Câmara contra grandes empresas multinacionais. Não é um assunto fácil, mas tem-se conseguido algumas coisas", diz.

Cabo-verdiano e há 40 anos em Sines, Manuel Duarte é deputado na Assembleia Municipal e agora disputa a Junta de Freguesia de Sines. Sua conterrânea Gracinda Luz, nascida há mais de 30 anos naquela comunidade, está ligada ao Movimento SIM, integrado por cidadãos independentes.

"Acho que será muito importante este meu envolvimento mais direto na participação política porque posso defender os interesses destas comunidades. E é nesse sentido que eu me associei", conta.

Todas as preocupações e necessidades das comunidades estão no programa político, diz a portuguesa da primeira geração de descendentes cabo-verdianos. "Os jovens descendentes têm uma enorme dificuldade de integração no mercado de trabalho. Nós podemos trabalhar com as empresas para que possam então dar essa oportunidade aos nossos jovens descendentes, que estão um pouco mais desacreditados", explica.

Gracinda Luz argumenta que os jovens querem estudar mas, muitas vezes, não têm as oportunidades, acabando por sair de Portugal. "O nosso interesse é fixar as pessoas pelo seu valor", argumenta. O desemprego também atinge muitos adultos, degradando a situação das respetivas famílias. "São imensas as dificuldades por que têm passado essas famílias."

Portugal Wahlkampagne der PSD Partei in Lissabon
Membros do PSD fazem campanha em LisboaFoto: DW/J. Carlos

Luta por integração

A integração plena é o baluarte de Danilo Salvaterra, são-tomense nacionalizado português, que integra a lista liderada pela social-democrata Teresa Leal Coelho para a Câmara Municipal de Lisboa. Ele é candidato a vereador no município da capital pelo PSD.

"Convidaram-me para estar nesta lista e com muito gosto estou nela, porque acredito na multiculturalidade e na candidata, que tem um projeto para uma Lisboa mais solidária, mais dinâmica, onde possam conviver todos nós, inclusive os imigrantes. A principal preocupação é que, de facto, os imigrantes possam depois integrar-se no projeto de sociedade que Lisboa tem. Que eles possam ser acolhidos da melhor forma", afirma.

Na reta final da campanha eleitoral, a DW África foi à Casal da Mira, bairro de uma freguesia do concelho da Amadora. Mário Barros, de origem guineense e angolana, é o terceiro na lista de Jorge Correia dos Santos, pelo Bloco de Esquerda (BE), para junta de freguesia e quarto para vereador da Câmara da Amadora. O partido virou as suas baterias para os chamados "bairros problemáticos", onde vivem imigrantes oriundos dos PALOP. Tais bairros na Buraca, Damaia e Reboleira têm sofrido com o desinvestimento em serviços públicos e com a exclusão social.

Africanos nas Autarquicas-Portugal - MP3-Mono

"O Bloco defende que toda a gente deve ter uma habitação condigna. Somos contra as demolições sem uma articulação com as famílias e sem uma solução de habitação social. Depois de verificarmos que as famílias têm necessidade dessa habitação social, deve ser feita uma atribuição. Temos obviamente, com o desmantelamento de alguns dos bairros na Amadora – alguns já estão em fase de conclusão –, mas temos outros ainda, grandes, nomeadamente a Cova da Moura, que nos preocupa", esclarece Mário Barros.

Caso vença, o Bloco propõe dotar os bairros com melhor qualidade de vida, quer no que toca ao saneamento básico quer no apoio social e escolar, abrangendo todas as crianças e os jovens. Há também que possibilitar aos idosos condições de mobilidade diurna e noturna para que possam também circular sem dificuldades.

O seu partido considera que a diversidade cultural desses bairros não tem sido respeitada e valorizada. O Bloco de Esquerda tem como candidato à Câmara de Guimarães Waldimir Brito, o chamado "pai" da Constituição de Cabo Verde. Brito, que aparece como independente, disse aos jornalistas ter chegado o momento de se disponibilizar para um projeto político desta natureza.

O professor da Universidade do Minho disse ainda que "a sua candidatura pretende abrir um espaço de debate político para encontrar as melhores soluções para o desenvolvimento do Concelho", sublinhando que ela pretende afirmar-se, em nome do BE, "por um projecto de cidadania activa sem discriminações".

Todos estes candidatos nutrem a ambição de uma vitória dos respetivos partidos no próximo domingo e de conquistar um mandato nas estruturas do poder local. É esta a ambição de Lígia Almeida, portuguesa de origem cabo-verdiana que integra a lista da socialista Maria de Assis para a União das Juntas de Freguesia de Almada, Pragal e Cova da Piedade, na margem Sul de Lisboa.