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Casamentos prematuros são prática corrente em Moçambique

Ernesto Saúl (Maputo)7 de julho de 2015

Ativistas dos direitos humanos defendem a urgência de criação de uma lei que penalize os pais e encarregados de educação promotores da prática. Mas não é fácil combater um fenómeno generalizado em Moçambique.

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Moçambique está entre os dez países com maior incidência de casamentos prematurosFoto: Romeu da Silva

O problema dos casamentos prematuros em Moçambique está a suscitar muitas sensibilidades: várias meninas continuam a ser obrigadas a casar antes dos dezoito anos, o que contribui para a marginalização das mesmas raparigas.

As vítimas desta prática normalmente não aceitam falar do assunto. Maria Das Dores, uma mãe, proveniente da Província de Gaza, Sul de Moçambique, é uma das poucas que falou sobre o assunto ao microfones da DW: "É uma coisa muito feia e estranha que está a acontecer em Moçambique", afirma esta mulher que tem assistido, na família e na vizinhança, a vários casos de casamentos prematuros, que levam as jovens a terem que pedir apoio a instituições de caridade: "Muitas mães grávidas, que estão nos lares, ainda são crianças. Devemos evitar isso. É muito feio para nós. Temos que deixar esses hábitos. Temos homens que pegam em crianças de 14, 15 anos como esposas! É vergonhoso", conclui Maria das Dores.

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Ativistas exigem melhor defesa dos direitos das crianças

É esta a realidade, que coloca Moçambique como décimo país do mundo com maiores índices de casamentos prematuros. Uma realidade que está a sensibilizar diversas organizações da sociedade civil, que questionam a eficácia dos instrumentos legais sobre esta matéria.

Existe uma lei em Moçambique, a denominada "lei da família", que é geralmente invocada nas tentativas de responsabilização criminal dos envolvidos nos casamentos prematuros. Essa lei é considerada inconsistente, pois, segundo as organizações, abre excepções para que, em casos concretos, uma menina com dezasseis anos se possa casar.

Para a jurista Vitalina Papadakis, a lei assume aqui o papel de promotor da violação dos direitos das crianças; daí a necessidade de revisão deste instrumento legal: "Da mesma forma que a lei pune quando um pai sujeita um menor a esforços ou a uma sobrecarga, também um casamento prematuro deviria ser punido. Quer dizer: nós deveríamos considerar esses casamentos antes dos 18 anos um crime", afirma a jurista.

Por seu lado, Conceição Osório, da Organização feminista WLSA Moçambique, considera inaceitável que a lei moçambicana permita casamentos de pessoas com dezasseis anos de idade. A ativista defende, por isso, a necessidade de uma lei específica contra os casamentos prematuros. "Nós temos a lei da família que proibe o casamento antes dos 18 anos", admite Conceição Osório, "mas normalmente abrem-se muitas exceções. Pensamos que deveria haver uma lei específica, porque uma lei pode desmotivar."

Convenções internacionais obrigam Moçambique a atuar

Por esta e outras razões, a jurista e cantora Ivet Mafundza, classifica a excepção prevista na Lei, como uma grave violação dos direitos humanos, e justifica: "Moçambique subscreveu várias convenções internacionais que obrigam o Estado moçambicano a respeitar a idade mínima de 18 anos para o casamento. Mas o que se verifica é a violação sistemática dessas convenções."

As ativistas dos direitos cívicos e humanos esperam que em Moçambique se possa aprovar, em breve, uma lei específica contra os casamentos antes dos 18 anos de idade. Esperam também que os pais e encarregados de educação que forçam seus filhos a casar de forma precoce sejam severamente punidos.

Ein Mädchen und ein Junge in einer Straße in Sanga
Casamentos prematuros são origem de problemas sociais, afirmam ativistas de defesa dos direitos humanosFoto: DW/M.David