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Cabo Delgado: "Ataques vão continuar ainda por muito tempo"

7 de fevereiro de 2023

Régio Conrado, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Bordéus, diz que a luta contra o terrorismo não está terminada, ainda que empresas como a TotalEnergies queiram retomar investimentos em Moçambique.

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Mosambik | Unruhen in der Provinz Cabo Delgado
Foto: Camille Laffont/AFP/Getty Images

A TotalEnergies nomeou um especialista para avaliar até ao fim deste mês a situação humanitária em Cabo Delgado, norte de Moçambique. A informação foi avançada pelo CEO da companhia, Patrick Pouyanné, que esteve na semana passada na região, onde se encontrou com o Presidente Filipe Nyusi para discutir a retomada do seu megaprojeto de gás – previsto para iniciar em 2024.

Para o investigador Régio Conrado, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Bordéus, a investigação independente pedida pela petrolífera francesa é uma forma de a empresa resguardar os seus investimentos e não aceitar uma versão governamental sobre a situação na região.

DW África: Haverá condições para a TotalEnergies iniciar as suas operações em Cabo Delgado, como previsto, em 2024?

Régio Conrado (RC): A situação na província de Cabo Delgado parece ter melhorado significativamente comparativamente ao que estava a suceder de 2017 a 2021. Também neste momento é impossível definir com precisão que em 2024 já possamos ter condições objetivas para o avanço do projeto. O relatório que vai sair sobre as condições dos direitos humanos e das condições para a integração das populações daquelas regiões, que é uma análise mais aprofundada do ponto de vista da segurança, vai determinar o que se possa esperar de 2024.

Mosambik Cabo Delgado | Total
TotalEnergies tem investimentos no setor dos recursos naturais, nomeadamente gás natural liquefeito, em MoçambiqueFoto: Reuters/R. Duvignau

DW África: A Total e o Governo fizeram uma avaliação positiva da situação em Cabo Delgado – tanto no contexto do combate ao terrorismo como na situação humanitária. Mas os ataques continuam a ocorrer, como o que vitimou um trabalhador da Médicos Sem Fronteiras. Episódios como este podem atrasar ainda mais a retomada do projeto da Total?

RC: Os terroristas mudaram de tática porque já não têm as grandes cidades que tinham em 2017. São agora pequenos grupos de 5 a 10 pessoas que vão fazendo ataques, emboscadas. É impossível imaginarmos uma situação de instabilidade total na província de Cabo Delegado. Os ataques vão continuar ainda por muito tempo e vai ser necessário que o Estado moçambicano repense com profundidade a forma como tem de intervir para resolver essa questão na província de Cabo Delgado. Vai ser necessário fortificar a inteligência e contrainteligência militar de forma a compreender melhor a capacidade de ação desses grupos terroristas.

DW África: Como interpreta a nomeação de um especialista pela empresa para avaliar de forma independente as condições humanitárias e de segurança na região?

RC: Como se trata de um investimento colossal, qualquer passo em falso pode ter consequências profundamente dramáticas. A ideia que está por trás da contratação de um especialista independente vem com a ideia de que não se pode confiar a responsabilidade ao Governo de Moçambique, porque as conclusões muito provavelmente seriam excessivamente favoráveis para o investimento. Mas também temos um consultor independente que terá a capacidade de fazer um estudo detalhado com profundidade. Estamos a ver que Total também não pretende entrar no discurso governamental, em que se pretende dizer que está tudo sob controlo. Recorde-se que antes dos ataques, houve um atentado onde morreram muitos estrangeiros e na altura dizia-se que estava tudo sob controlo.

População em fuga no norte de Moçambique

DW África: Há uma grande expetativa por parte da petrolífera francesa para a retomada do seu projeto. A empresa fez um grande investimento na região e, claro, quer suprir a necessidade de gás na Europa criada pela guerra na Ucrânia. Mas em Moçambique, quais são as expetativas dos moçambicanos?

RC: O Estado moçambicano tem uma grande expectativa de poder fazer investimentos para melhorar as condições de vida das populações que vivem naquela região , mas também fortificar a capacidade dentro das Forças Armadas.

Thiago Melo da Silva
Thiago Melo Jornalista da DW África em Bona