1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Burkina Faso: Corpo de Thomas Sankara "crivado de balas"

Annabelle Steffes / gs15 de outubro de 2015

O ex-Presidente burkinabé, Thomas Sankara, não morreu de causas naturais, como se anunciou oficialmente em 1987. Este é, para já, o resultado de uma investigação às circunstâncias da morte do ícone do pan-africanismo.

https://p.dw.com/p/1Goj0
Foto: Getty Images/I. Sanogo

"Fico muito contente por esta investigação estar a trazer à tona a verdade", afirma Mariam Sankara em entrevista à DW África. Há quase 30 anos que a viúva do antigo Presidente burkinabé Thomas Sankara tenta obter esclarecimentos sobre as circunstâncias e o motivo da morte do marido.

A investigação começou no final de maio, cinco meses depois do ex-Presidente Blaise Compaoré ser afastado do poder na sequência da revolta popular de outubro de 2014. Está em curso o processo de identificação do corpo, que se presume ser de Sankara, por um perito em ADN.

Burkina Faso Mariam Sankara
Mariam Sankara vive na FrançaFoto: Getty Images/AFP/A. Ouoba

Apesar de ainda não se ter estabelecido conclusivamente que se tratam dos restos mortais do ex-Presidente, há "muitos elementos que apontam para isso", diz um dos advogados da família, Bénéwendé Sankara.

Ferimentos de bala "debaixo das axilas"

Os advogados apresentaram esta terça-feira (13.10) aos juízes militares o relatório da autópsia e investigação balística que confirma que o corpo do ex-Presidente do Burkina Faso foi "crivado de balas".

O corpo de Sankara teria mais de uma dezena de ferimentos de bala, incluindo debaixo das axilas.

"Concluiu-se que os assassinatos perpetrados a 15 de outubro de 1987 tiveram origem criminosa e foram utilizadas armas de fogo", afirmou o advogado Bénéwendé Sankara. "Foram identificados vários tipos de armas, incluindo G3, Kalashnikov, pistolas automáticas e até granadas. Em todo o caso, armas provenientes do exército."

Burkina Faso Ouagadougou General Gilbert Diendere
Gilbert Diendéré estará envolvido?Foto: picture alliance/Photoshot

Processo judicial

Oito acusados terão agora de responder em tribunal. Entre eles, Nabonswendé Ouédraogo, o médico do exército que, em 1987, declarou que Sankara morrera de "causas naturais". Entre os réus estarão também elementos da extinta guarda presidencial, responsável pelo golpe de Estado falhado de 17 de setembro, sob a liderança do general Gilbert Diendéré.

Acredita-se que Diendéré, braço direito do ex-Presidente Blaise Compaoré, tenha sido o chefe do comando que abateu Sankara há 28 anos: "Diendéré era, na época, o responsável do comando de segurança. O processo não pode ter lugar sem ele. Aguardo impacientemente que Diendéré seja interrogado", afirma a viúva Mariam Sankara.

O general Diendéré deveria ter ido depor sobre o caso no dia do golpe falhado. Encontra-se detido em Ouagadougou, acusado de "atentado contra a segurança do Estado" e "alta traição" e poderá ser chamado a depor em breve.

Conhecido como o "Che Guevara de África", Thomas Sankara chegou ao poder através de um golpe de Estado em 1983. Com mão de ferro, tentou concretizar a sua visão para o país: acabar com a corrupção e unir-se com os Estados africanos vizinhos. Pelo caminho, arranjou vários inimigos políticos. O companheiro de longa data Blaise Compaoré derrubou-o do poder a 15 de outubro de 1987. Sankara foi morto e, alegadamente, enterrado à pressa com 12 apoiantes.

[No title]

"Esta é uma investigação de todos os burkinabés e eu conto com o apoio da população, porque o povo quer acabar com o clima de intimidação que reina neste país", diz Mariam Sankara.