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Autárquicas serão tira-teima para MDM, diz analista

Nádia Issufo
19 de dezembro de 2017

Egídio Vaz avalia que partido perdeu chance de sanar crises internas, em congresso no início deste mês. Terceira maior força política de Moçambique terá que provar mérito, com presença da RENAMO nas eleições, afirma.

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Mosambik Kongress der Partei MDM
II Congresso do MDM aconteceu no início deste mêsFoto: DW/S. Lutxeque

O II Congresso do MDM, realizado no início deste mês de dezembro em Nampula, era visto como uma oportunidade para o segundo maior partido da oposição em Moçambique resolver as suas crises internas. Os problemas agudizaram-se ainda mais, quando falta menos de um ano para as eleições autárquicas.

Em entrevista à DW África, o analista moçambicano Egídio Vaz diz não apenas que a crise no seio do partido continua, mas também afirma que as maiores conquistas eleitorais do MDM aconteceram num cenário de ausência da RENAMO. Se ganhar território nas autárquicas de 2018, partido não apenas provará seu mérito, como também será estabelecido novo diálogo interno.

20 Jahre Frieden Mosambik
Analista moçambicano Egídio VazFoto: DW/Marta Barroso

DW África: O MDM realizou o seu II Congresso em ambiente de crise. No final, ficou claro um fortalecimento do partido ou isso não ficou claro?

Egídio Vaz (EV): Quanto a mim, é preciso ajuizar o tipo de crise, se é institucional ou relacional. Quero trazer esses dois conceitos para aligeirar a magnitude, ou a percepção sobre a magnitude, da crise.

O MDM, desde há muito, teve o estilo de gestão e liderança carismática. Significa que tinha apenas um único líder, coadjuvado pelos assistentes ou eventualmente colaboradores e que, dada a própria natureza do partido e da forma de gestão, não se permitia nenhuma corrente alternativa de pensamento - à semelhança do que, por exemplo, conseguimos ver na RENAMO.

Ora, à génese do MDM e à sua estratégia de crescimento, foi ancorada uma tática de aproveitamento das valências individuais.

Mosambik Kongress der Partei MDM
Durante o II Congresso do MDM, o presidente do partido, Daviz Simango (com as mãos para cima), foi eleito candidato presidencial para 2019Foto: DW/S. Lutxeque

Portanto, o MDM sabia claramente que, num ambiente político como o nosso - marcado por todos os "ismos", nomeadamente o caciquismo, eventualmente o regionalismo, entre outros “ismos” - era importante apresentar-se politicamente como uma alternativa, mas também uma alternativa que acomode ideias. Não só aquelas rejeitadas ou desafiadas em outros ambientes políticos, mas também ideias válidas. Estamos a falar aqui de pessoas cuja carreira individual, profissional ou mesmo académica apresenta-se como frutífera e, portanto, uma cara nova.

Ora, uma coisa é associar essas pessoas num único partido e através delas individualmente conseguir-se as vitórias eleitorais. Por exemplo, Mahamudo Amurane, Manuel de Araújo e o próprio Daviz Simango. Outra coisa bem diferente é manter um diálogo saudável entre essas mesmas pessoas - dentro de um contexto de competição, mas também dentro de um contexto onde essas pessoas não estão lá apenas para servir interesses eventualmente da liderança, que também têm as suas estratégias de crescimento.

Portanto, é nesse contexto que se vai ao II Congresso. De resto, há um congresso marcado por discussões longas, mas também algumas imposições – um pouco à semelhança do que temos visto nos congressos dos outros partidos e que sai à ala que está a gerir o poder, que se consegue impor ante a todo um conjunto que sugeria a acomodação.

DW África: Está a dizer que o MDM não saiu fortalecido, não conseguiu sanar as suas crises?

(EV): Bom, a crise continua. Não acredito que tenha sanado alguma [crise], se existir. Agora, os conflitos são importantes. Mas, depende, acima de tudo, da forma como são geridos internamente. Não me parece a mim que tenha havido espaço para essas crises afirmarem-se ou essas divergências serem acomodadas.

19.12.17. ONLINE MDM Crise Entrevista - MP3-Stereo

DW África: As eleições estão à porta. É nesse contexto que o MDM vai participar na corrida eleitoral?

(EV): É, definitivamente, no mesmo ambiente. Eu julgo também que essas são eleições „tira-teima”, diga-se assim. Porque as próprias eleições municipais acontecem, ao que tudo parece, com a participação inteira da RENAMO a nível nacional. Ora, se quiser saber o contexto em que Manuel Araújo subiu ao poder e perceber o contexto em que o Amurane subiu ao poder e outros, em mais dois outros distritos - nomeadamente Gurue e Milange, eu acho - é num contexto de ausência da RENAMO.

Agora, é importante tirar a teima, se nesses mesmos espaços, dominados agora pelo MDM, são-no por mérito próprio ou na ausência da participação da RENAMO. Isso é particularmente importante para o MDM, porque a partir do momento em que isso acontecer, vai desencadear, digamos assim, um novo tipo de diálogo político dentro do próprio MDM.

Ou seja, num cenário em que o MDM consegue, por exemplo, derrotar a RENAMO, em Quelimane, em Nampula, ganhar Mucuba eventualmente, o que vai acontecer, na verdade, é que estes resultados eleitorais vão ser usados como um poder de barganha sobre toda a dinâmica interna do partido MDM, a partir da qual se farão, logicamente, algumas exigências.

Aliás, tem sido esse o discurso, por exemplo, do Manuel de Araújo, e de alguma facção, que diz que não. A forma como o poder está distribuído dentro do MDM não obedece, na verdade, ao peso político de cada contribuinte. E ele deixa sugerir, por exemplo, que o fato de a província da Zambézia ter contribuído introduzindo mais deputados na Assembleia da República devia obviamente ser alguém da Zambézia ou do círculo eleitoral da Zambézia a dirigir a bancada do MDM, como uma forma de emular, encorajar e reconhecer a contribuição e a participação exitosa deste partido naquele mesmo local.

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