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Aumenta a pressão para reformar a CEDEAO

Djariatú Baldé
9 de abril de 2024

Mali, Níger, Burkina Faso, Senegal e Guiné-Conacri exigem reformas profundas na Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental.

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Líderes da CEDEAO, setembro de 2021
Foto: Nipah Dennis/AFP

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) enfrenta uma das suas piores crises. A situação agravou-se como anúncio da retirada dos três países do Sahel, nomeadamente Mali, Níger, Burkina Faso, que acusam a organização de ter falhado com a sua missão.

O Senegal juntou-se a esta lista de descontentes. O novo Presidente, Bassirou Diomaye Faye, que se considera um pan-africanista, já pensa em reformas na CEDEAO.

Em declarações à DW, o analista político nigerino Dicko Abdourahamane também defende a necessidade de mudanças. Porque se nada for feito face à atual situação da organização, isso poderá determinar o seu "desaparecimento sistemático". 

"No contexto atual, em que os Estados africanos começam a perspetivar uma nova visão, por vezes, da própria conceção dos Estados republicanos, penso que a refundação da CEDEAO só será possível se estes Estados se unirem e se envolverem verdadeiramente para esta finalidade." 

Para o ativista guineense Carlos Pereira, uma visão pan-africanista pode trazer a emancipação da zona: "Se queremos seguir as agendas desses países, precisamos mudar os regimes. Os povos dos restantes países da comunidade têm de escolher um projeto político que vai de acordo com as novas exigências da África, principalmente a nova exigência da zona", afirma.

 Assimi Goïta, Abdourahamane Tiani, Ibrahim Traoré
Presidentes de transição do Mali, Assimi Goïta, do Níger, Abdourahamane Tiani, e do Burkina Faso, Ibrahim TraoréFoto: Francis Kokoroko/REUTERS; ORTN - Télé Sahel/AFP/Getty; Mikhail Metzel/TASS/picture alliance

O jornalista Hamidou Sagna alerta, ainda assim, para a necessidade de outros Estados seguirem o exemplo da democracia senegalesa. "Se colocarmos o conceito de democracia em primeiro lugar e o conceito de economia em segundo, se conseguirmos fazer esta ligação, penso que podemos imaginar uma CEDEAO reformada e absolutamente sólida ao serviço dos Estados e das populações", comenta o senegalês.

Regresso à CEDEAO?

O pan-africanista Carlos Pereira acha que é possível convencer o Mali, o Níger e o Burkina Faso a reintegrarem a organização e implementar uma visão mais voltada para a sub-região. Mas o analista político do Níger Dicko Abdourahamane considera que essa será uma tarefa muito difícil uma vez que os três países, governados por juntas militares, criaram uma aliança alternativa,denominada Aliança dos Estados do Sahel (AES). 

"Se o Níger, o Burkina Faso e o Mali aceitassem regressar, estariam a virar as costas a este novo projeto político, criado para resolver o fracasso da CEDEAO. Esses países podem aceitar regressar, mas será em nome da AES", diz Abdourahamane.

Também o jornalista senegalês Hamidou Sagna aponta para a dificuldade de convencer os três Estados a regressarem à CEDEAO. 

"[Os três] gostaram do facto de as novas autoridades senegalesas terem uma opinião positiva sobre eles, e inevitavelmente pode haver pontos de convergência, mas penso que será muito difícil que esses pontos de convergência conduzam a um regresso definitivo desses países à CEDEAO".

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Nova moeda comunitária?

Entre as reformas almejadas pelo novo Presidente do Senegal está também a criação de uma moeda para o país em substituição do franco CFA, usado em ex-colónias francesas. 

A CEDEAO tem o projeto de lançar uma moeda única para a comunidade, chamada "ECO". Mas "se olharmos para as ambições políticas da CEDEAO, este é um projeto bastante instável e compreende-se facilmente que o ECO não estará muito longe do fraco CFA", entende Dicko Abdourahamane.

Por isso, o analista nigerino acha que é preciso criar um banco central, para que os Estados possam ser mais independentes. 

Carlos Pereira comenta que a mudança de moeda por país não terá sustentabilidade para a comunidade: "Não podemos pensar que vamos avançar individualmente, temos de avançar em bloco e criar uma moeda única que vai dignificar mais a zona".

Aproximação à Rússia

Um outro ponto é que os três países que decidiram sair da organização alegando, por um lado, a influência ocidental, ou seja, de países da esfera da NATO, estão a aproximar-se cada vez mais da Rússia. Moscovo forneceu recentemente material militar ao Burkina Faso que enfrenta o terrorismo há vários anos.

Carlos Pereira lembra que "a Rússia tem o seu proveito nesta aproximação com África e África deve saber tirar proveito desta aproximação e [sair] desta dependência que tem do Ocidente".