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Atletas da África lusófona lutam pelo sonho das Olimpíadas

8 de junho de 2012

Adyzângela Moniz, Kurt Couto e Jacira Mendonça já estão apurados para os Jogos Olímpicos de 2012. Ruben Sanca e Lecabela Quaresma lutam pelo mesmo objetivo. Nasceram na África de expressão portuguesa e querem vencer.

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Adyzângela Moniz vai participar nos Jogos Olímpicos de Londres
Adyzângela Moniz vai participar nos Jogos Olímpicos de LondresFoto: Dysa Pereira Moniz

A data aproxima-se e os nervos estão à flor da pele. São mais de 10 mil atletas que rumam a Londres, em julho, para representar 205 nações numa das competições mais importantes do mundo: Os Jogos Olímpicos. Em disputa estão 39 modalidades e vários pódios.

Conseguir um lugar na competição mais antiga e disputada do mundo é o sonho de qualquer atleta. A judoca cabo-verdiana Adyzângela Moniz carimbou o passaporte olímpico pela primeira vez no dia em que comemorava 25 anos. “Foi uma prenda de anos. Eu fiquei muito feliz, mesmo. De todos os meus aniversários, este foi o melhor”, afirma a atleta. Adyzangela Moniz compete há 10 anos, num clube da cidade da Praia. Alia o desporto com os estudos, está no terceiro ano de Contabilidade e Administração. Em Londres, vai disputar a categoria dos 78 kgs. Está confiante, mas nervosa, e considera que esta surpresa traz consigo “algum receio” e “muita responsabilidade”. “Tenho a consciência do tipo de atletas que vou encontrar. São atletas que passam a vida inteira a treinar e aqui em Cabo Verde não tenho as mesmas condições”, explica.

Não esteve presente, em Abril, nos Jogos Africanos em Agadir, em Marrocos, por falta de verba. Ainda assim, conseguiu somar a pontuação suficiente para garantir um lugar na aldeia olímpica. À espera da bolsa do comité olímpico, a atleta queixa-se, sobretudo, da falta de apoios por parte do governo. Em março, foi eleita a melhor atleta do ano na modalidade de Judo, pela Câmara Municipal da Praia. É a primeira mulher cabo-verdiana a obter uma qualificação por mérito próprio para a prova rei do desporto mundial. A obtenção do mínimo para os Jogos Olímpicos, segundo Adyângela Moniz, é também uma vitória para as mulheres de Cabo Verde: “Acho que é um orgulho tanto para mim como para as mulheres cabo-verdianas. É a prova de que se lutarmos, tentarmos, podemos fazer muito mais do que imaginamos.”

À espera do Wild Card

Se vencer a luta contra o relógio, Ruben Sanca participará pela primeira vez nos Jogos Olímpicos, para representar Cabo Verde nos 5 mil metros. Treina nos Estados Unidos e ainda não sabe se será um dos brindados com o Wild Card – o convite para aceder aos Jogos - para o qual tem treinado nos últimos anos. “A minha expectativa é dar o meu máximo para obter um bom resultado. Um bom resultado para Cabo Verde, para o futuro do atletismo no país”, afirma o atleta. Tinha 12 anos quando mudou de continente para estudar. Começou a praticar atletismo aos 14, nos liceus do estado de Massachusetts, e, mais tarde, numa Universidade deste estado. Hoje, depois de várias lesões físicas graves, compete ao mais alto nível nos Estados Unidos.

Em Cabo Verde, detém oito recordes nacionais. Nunca desistiu do seu país e é nele que quer continuar a apostar: “Gostaria de abrir uma escola de atletismo em Cabo Verde, para ajudar as crianças e a juventude”, diz Ruben Sanca. Um sonho que quer cumprir depois dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Aos 25 anos, já terminou os estudos na área de Negócios e trabalha na Universidade de Massachusetts, em Lowell. Um dia quer voltar a Cabo-Verde não só para correr, mas também para promover o desporto no seu país.

Veterano das pistas de corrida

Para Kurt Couto, a experiência em Londres não será uma total surpresa. É a terceira vez que garante mínimos para os Jogos Olímpicos. O moçambicano vai competir nos 400 metros barreiras, prova para a qual se apurou na Alemanha em Junho de 2011. Nunca passou das eliminatórias em provas internacionais, mas acredita numa semifinal: “Gostaria de chegar ao pódio”, afirma, garantindo que está a treinar para isso. “Se eu não tivesse esse sonho acho que já teria deixado de correr há muito tempo. Vou dar tudo por tudo para ver se conseguimos abrir mais portas ao desporto moçambicano”, promete Ruben Sanca.

Tem 27 anos e, desde os 17, treina em Pretória, onde frequenta o segundo ano de Economia. Esta época, já correu 3 vezes abaixo do mínimo exigido para as Olimpíadas. O tempo de 49’12 é recorde nacional em Moçambique. Kurt Couto só conhece a aldeia olímpica pela televisão e está ansioso pelo início da competição: “Quero que o tempo passe rápido para estarmos lá e começarmos a competir e sentir como vão ser as olimpíadas em Londres, porque aquilo é tudo muito bonito, com certeza que é diferente, como foi em Pequim e com certeza que eles estão preparados”,


Quando terminar a sua carreira como desportista, vai dedicar-se à Economia e, quem sabe, um dia trabalhar na área do Desporto em Moçambique. Até lá, o atletismo é a prioridade: “Não sei o que estaria a fazer agora sem o atletismo na minha vida, sem o desporto”, sublinha, destacando “o facto de poder conhecer novas pessoas, interagir com outras culturas e fazer novas amizades, porque, um dia, quando o atletismo acabar, as medalhas vão ser só uma coisa na parede, mas os amigos ainda estão lá”,

No Senegal, a guineense Jacira Mendonça treina arduamente, todos os dias, uma modalidade já por si dura. Luta Greco-romana. Aos 26 anos, atingiu o principal objetivo de qualquer atleta, a qualificação para os Jogos.Vai para Londres pronta para vencer: “Eu acho que vou ser campeã porque sinto-me bem, agora. Eu treino para isso, eu acredito em mim própria”. A atleta acrescenta: “As pessoas que conheço, nos vários campeonatos, não são melhores do que eu. Eu preciso de trazer alguma coisa para o meu país, para o meu povo e para o presidente do meu comité olímpico”.

Há mais de uma década que se prepara para os Jogos Olímpicos. O trabalho intensivo levou-a a conseguir a qualificação, em Marrocos, num Campeonato da Especialidade. Vive e treina desde 2007 no Senegal, depois de ter vivido também na Tunísia. Quando terminar a carreira a atleta já pensa no futuro: “O meu sonho é ser campeã. Depois, quero ser treinadora, voltar ao meu país, treinar pessoas e fazer delas campeãs como eu e outros atletas”, afirma Jacira Mendonça.

"Quero ser a melhor do mundo"

Em França, desde fevereiro de 2011, Lecabela Quaresma, com 22 anos, corre todos os dias com vontade de voar mais alto. Ainda não é certo que obtenha a marca mínima para representar São Tomé no triplo salto. Faltam-lhe 45 centímetros, mas ainda tem os Jogos Africanos, em junho, para melhorar a marca. “Eu ando a treinar. Se sair, fico muito contente, se não, pelo menos trabalhei, dei no duro”, confessa.

Nasceu em São Tomé, mudou-se com 5 anos para Portugal e começou a praticar atletismo aos 10 anos, numa escola da Grande Lisboa. O primeiro clube foi o Juventude Operária do Monte Abraão. A atleta sempre gostou da modalidade desde criança: “Comecei na escola, nos corta-matos escolares”, explica. O seu maior sonho, enquanto atleta é “chegar à casa dos 14 metros”. “Sei que é possível”, diz Lecabela Quaresma, afirmando que, um dia quer “ser a melhor do mundo”.

São jovens, são atletas, são africanos. Adyzângela Moniz, no judo, Kurt Couto, no atletismo, e Jacira Mendonça, na luta Greco-romana, já estão apurados para os Jogos Olímpicos de 2012. Ruben Sanca e Lecabela Quaresma, do atletismo, trabalham para cumprir o sonho. São cinco atletas que se destacam dos demais, nasceram na África de expressão portuguesa, dedicam-se diariamente ao desporto e terminam cada treino com o mesmo sonho. Chegar aos Jogos Olímpicos e vencer. Uma medalha faria toda a diferença. A prova de todas as provas começa a 27 de julho e termina a 12 de Agosto, em Londres.

Autor: Nuno de Noronha

Edição: Maria João Pinto