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"Apps" africanas para telemóveis

20 de outubro de 2012

Quase todas as semanas programadores africanos lançam novas aplicações para telemóveis. Neste programa apresentamos dois exemplos de "apps" que podem tornar a vida mais fácil e mais segura.

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Telemóvel Galaxy Note II da Samsung
Telemóvel Galaxy Note II da SamsungFoto: picture-alliance/ZB

A primeira aplicação de sucesso, que apresentamos, foi desenvolvida no Uganda, onde dois jovens estudantes de Tecnologias da Informação criaram uma aplicação que indica aos motoristas quais as estações de serviço mais baratas em Kampala, capital do Uganda. A segunda vem do Gana e já salvou vidas.

Edward Sekeywa conduz seu carro pelas ruas de Kampala. O tanque está quase vazio. Ele precisa de encontrar, com urgência, uma estação de serviço. Mas, a gasolina é cara na capital do Uganda. E os preços variam muito de posto de gasolina para posto de gasolina.

Edward Sekeywa procura em Kampala a gasolina mais barata
Edward Sekeywa procura em Kampala a gasolina mais barataFoto: DW/S.Schlindwein

Para encontrar o mais barato Sekeywa olha para o seu telefone móvel. "Esta aplicação mostra-me no meu telemóvel onde posso encontrar a estação de serviço mais em conta na cidade, na área em que me encontro. Isso é importante, porque os preços são muito diferentes. Estou no bairro de Kololo e a app indica-me o posto de gasolina de Kamwoya. A gasolina lá custa 3.550 xelins. Vou até lá".

Mesmo a classe média ugandesa tem de poupar

3.550 xelins por litro equivalem a cerca de 1,10 euros. Edward tem perto de 40 anos de idade e faz parte da classe média em crescimento de Uganda. Conduz um Volkswagen, tem um emprego, numa organização não-governamental, é pai de uma criança e tem uma casa. Mas, apesar de Edward ter um rendimento razoável, também tem "de fazer contas à vida", diz, enquanto estaciona no posto de gasolina.

Quando olha para o preço da gasolina, fica desconfiado. "Isto é estranho. A aplicação mostrou-me que a gasolina custava 3.550 xelins. Porém aqui vejo 3.600 xelins por litro." Depois de uma conversa com o empregado da bomba de gasolina, Edward pede gasolina no valor total de 20 mil xelins. "Dizem que eles vendem já há uma semana a um preço de 3.600 xelins", conta Edward.

A gasolina é cara no Uganda, apesar de sobre ela não recaírem impostos. Isto acontece porque o combustível que chega ao país é transportado primeiro por navio até Mombasa, no Quénia e depois por camião para o Uganda.

"Mafuta-Go" uma "app" que ajuda consumidores a poupar e a empresas a ganhar mais clientes

Os criadores da Mafuta-Go: Christine Ampaire e Daniel Odongo
Os criadores da Mafuta-Go: Christine Ampaire e Daniel OdongoFoto: DW/S.Schlindwein

Os inventores da aplicação que indica a gasolina mais em conta estão conscientes desses factor. Christine Ampaire e Daniel Odongo são jovens estudantes de Informática. Há um ano, criaram a sua empresa a Code-Sync e desenvolveram a aplicação "Mafuta-Go", que em português significa "Gasolina-Go". A aplicação é grátis e foi financiada por um prémio de 8 mil euros que ambos ganharam.

Entretanto já é possível no Uganda saber os preços da gasolina também no Twitter, Facebook e via SMS diz Christine Ampaire: "Estamos a negociar parcerias com os postos de gasolina para que a 'Mafuta-Go' possa ser automaticamente actualizada", explica. "Enquanto não temos parceiros, enviamos todas as manhãs motociclistas para verificar em todos os postos de gasolina de Kampala os preços. E muitas vezes são os próprios clientes, quando vão aos postos de combustíveis, a enviar-nos os preços atuais", explica Christine Ampaire. "A nossa economia é altamente volátil. Os consumidores tentam poupar e as empresas precisam de mais clientes. A 'Mafuta-Go' é a ferramenta adequada para isso".

Especialmente em tempos de crise a aplicação revela-se brilhante. De tempos a tempos os camiões de transporte de combustíveis ficam retidos nas fronteiras ou no porto no Quénia e a gasolina escasseia em Kampala. Isso aconteceu há poucas semanas. Em vez de conduzir por toda a cidade à procura de uma estação de serviço com combustível, bastava olhar para a "Mafuta-Go", para se saber onde ainda havia gasolina.

Ao encontro do Bill Gates africano

Na capital do Gana, Accra, têm aumentado os casos de roubo armado. O programador Herman Hesse Chinery desenvolveu um sistema de alerta de emergência chamado para proteger as pessoas de ataques. Tudo o que é necessário é um telefone móvel de onde se possam enviar SMS. O sistema se chama "Hei Julor" ou "Hei Ladrão" em português.

"Hei Julor" é um sistema de segurança via telefone móvel. Caso a habitação de um cliente ou a sua empresa sejam atacadas, tudo que é necessário para que o sistema funcione é enviar uma mensagem de texto em branco. Esta mensagem desencadeia imediatamente a deslocação de uma equipe de resgate de uma empresa de segurança privada.

Em simultâneo, 10 amigos ou vizinhos receberão uma mensagem. Eles podem correr para a casa do seu vizinho e ajudar. A ideia para o serviço "Hei Julor" surgiu em plena Primavera Árabe e quando ocorriam tumultos na Grã-Bretanha. Em ambos os casos, a tecnologia de telefonia móvel – por exemplo de mensagens do BlackBerry – foi usada para coordenar as atividades.

Chinery Hesse, que tem sido referido como "o pai da tecnologia em África" ou até em referência ao fundador da empresa americana Microsoft como o "Bill Gates africano", conta como ele e seus colegas se lembraram de criar a "Hei Julor". "Nós estamos a ter inúmeros casos de assalto à mão armada no nosso país, se eles [egipcíos] conseguem coordenar milhares de pessoas e faze-las aparecer assim de repente, isso está em linha com a nossa cultura, e na nossa cultura nós somos guardiões dos nossos vizinhos. Se o seu vizinho está a ser atacado no mínimo gritaria "Julor ei julor", o que iria fazer fugir o ladrão".

Não demorou muito até que Chinery Hesse e seus colegas na empresa de software "Softribe" colocassem essas ideias em prática. "Nós sentámo-nos no escritório, chamámos todos para uma reunião, e dissemos:vamos pensar no que seria necessário para ter um produto barato, que todos possam pagar, mas que permita proteger o Gana, para que este não se torne num Estado pária cheio de crime".

Adesão ao serviço é simples

Um cartão onde se raspa um número de código é tudo que se precisa para se inscrever no serviço. Uma vez enviada a mensagem com este código para a empresa, está tudo a postos. Chinery Hesse diz que o programa foi propositadamente concebido para ricos e pobres. Clientes ricos podem pagar por um ano de imediato, e obter um mês de serviço gratuito. Aqueles com menos dinheiro pagam 10 cedis, cerca de 4 euros, por mês.

A tecnologia já salvou a vida de algumas pessoas. Chinery Hesse cita dois exemplos recentes: "o primeiro foi o de um idoso que teve um acidente vascular cerebral leve. Havia pessoas na sua casa, mas ele estava no andar superior e não tinha força para descer ou gritar. Como tinha o telemóvel ao lado enviou uma mensagem 'Hei Julor'. Uma empresa de segurança ocorreu ao local e levou-o para o hospital. Salvando-lhe a vida. Há também o caso de um homem que se embebedou e começou a bater violentamente na mulher. Ela ligou para 'Hei Julor' e a equipa 'Hei Julor' deteve-o".

Autor: Simone Schlindwein / Isaac Kaledzi
Edição: Helena Ferro de Gouveia / Johannes Beck

Um autocolante com "app" Hei Julor que tem como objetivo servir de dissuasão
Um autocolante com "app" Hei Julor que tem como objetivo servir de dissuasãoFoto: Isaac Kaledzi

"Apps" africanas: dois casos de sucesso

Herman Chinery-Hesse, o " Bill Gates africano", no seu escritório no Gana
Herman Chinery-Hesse, o " Bill Gates africano", no seu escritório no GanaFoto: Isaac Kaledzi