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Angola é o segundo maior mercado ilegal de marfim, depois da Nigéria

Rita Himmel15 de julho de 2014

Em Angola, o marfim continua a ser vendido, apesar de o país se ter comprometido a combater este tráfico ilegal. Obtido na África Central, o marfim circula por redes internacionais, sobretudo com destino à China.

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Na foto queima de marfim apreendido no GabãoFoto: picture-alliance/James Morgan/WWF

De acordo com Esmond Martin, um investigador norte-americano radicado no Quénia e especialista no comércio de fauna selvagem, mais de 95% dos compradores em Luanda serão chineses.

Juntamente com uma colega, Martin visitou o mercado de Benfica, na zona sul de Luanda, onde viu milhares de peças de marfim a serem vendidas. Martin explica à DW que nesse mercado "há enormes quantidades de marfim à venda. Ao longo de várias visitas, contámos cerca de dez mil peças à venda de cada vez, o que faz de Benfica o maior mercado ilegal de marfim na África Austral."

Destino: Ásia, onde o marfim é altamente valorizado

As peças são altamente valorizadas no mercado chinês, onde são vendidas por um preço mais de dez vezes superior ao encontrado no país africano.

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Guardas encontram um elefante abatido por predadores no parque nacional de Tsavo, QuéniaFoto: picture-alliance/dpa

Esmond Martin afirma que "o preço grossista que os artesãos ou revendedores pagam no mercado de Benfica é de entre 150 a 200 dólares por quilo", preço que sobe - e muito - depois do transporte para a China: "Constatámos que o preço em Pequim, equivalente ao preço grossista, que um artesão ou um gerente de uma fábrica pagaria, é de 2.100 dólares por quilo."

Angola é placa giratória por excelência

De acordo com um estudo da autoria de Esmond Martin para a organização queniana “Save the Elephants”, Luanda tem o segundo maior mercado de comércio ilegal de marfim a retalho em África, a seguir a Lagos, na Nigéria.

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Marfim confiscado no Parque Nacional do Niassa, Moçambique, em setembro de 2013Foto: E. Valoi

Para além disso, o país tem, a seguir à África do Sul, a segunda maior população de expatriados chineses em África - 260 mil pessoas. Mas o investigador sublinha que o tráfico existia bem antes do aumento da presença chinesa no país: "Este tráfico ilegal em grandes quantidades no mercado de Benfica já existe há anos, mesmo antes da chegada em grande escala de chineses." E Martin é perentório em acusar o executivo angolano: "O governo simplesmente não aplica as próprias leis", afirma.

Governo de Angola não aplica as próprias leis

Em 2013, Angola aderiu à CITES, a Convenção do Comércio Internacional de Espécies em Perigo de Fauna e Flora Selvagem, que proíbe toda a importação e exportação de marfim.

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Elefante morto no Parque Nacional do Niassa, MoçambiqueFoto: E. Valoi

A entidade divulgou dados este mês segundo os quais, nos últimos três anos, mais de 60.000 elefantes foram mortos em África. A DW tentou contactar o Ministério do Ambiente angolano, mas não conseguiu uma resposta a tempo.

Em declarações à agência Bloomberg, o responsável pelo Instituto Nacional de Biodiversidade e Áreas de Conservação de Angola, Soki Kue-Di-Kuenda, afirmou que há divergências internas relativamente a quem seria responsável por monitorizar e avaliar este tipo de tráfico ilegal, tendo submetido os documentos para o Conselho de Ministros de forma a apurar se seria o Ministério do Ambiente ou da Agricultura.

Problema ultrapassa fronteiras de Angola

Esmond Martin faz ainda questão de sublinhar que o tráfico ilegal de marfim no mercado de Benfica é um problema que ultrapassa as fronteiras de Angola. Segundo o ativista, o problema deste grande mercado em Angola é que "o marfim, as presas, não vêm de Angola, onde a maioria dos elefantes já foi morta, mas sim da África Central".

Quénia: a caça aos elefantes continua
Quénia: a caça aos elefantes continua, dizem os ecologistasFoto: DW

Nos últimos 10 anos, mais de 62% dos elefantes nessa região foi dizimada através da caça furtiva, e algum desse marfim foi parar a Angola. O problema não afeta, pois, apenas afete a Angola. O tráfico em grande escala também está a afetar as populações de elefantes de outros países.

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