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Ativistas das Lundas vão denunciar repressão policial à ONU

António Rocha
1 de março de 2018

Presidente do Movimento Protectorado Lunda Tchokwe garante que as denúncias de violência, após a detenção de 100 pessoas num protesto pela autonomia das Lundas, vão chegar às mais altas instâncias.

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Foto de arquivo: Polícia dispersa protesto do Protectorado em 2017Foto: Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe

As autoridades policiais angolanas libertaram na tarde desta quarta-feira (28.02) as últimas pessoas, de um total de 101, que estavam detidas desde sábado, na província da Lunda Norte, durante um protesto para reivindicar a autonomia do Reino Lunda.

A informação foi confirmada em entrevista à DW África pelo presidente do Movimento Protectorado Lunda Tchokwe, promotor da manifestação de sábado. Segundo José Mateus Zecamutchima, o protesto tinha sido comunicado às autoridades angolanas a 15 de janeiro.

DW África: Quantas pessoas detidas no protesto de sábado foram libertadas?

José Mateus Zecamutchima (JMZ): Felizmente, hoje (28.02) acabaram de colocar todos os nossos membros fora das cadeias. Todas as 101 pessoas foram libertadas, estão nas suas casas.

DW África: E aquelas que se refugiaram nas matas durante as rusgas da polícia? Já regressaram?

JMZ: Não. Até estamos a apelar aos nossos compatriotas [que regressem]. Temos matas muito fechadas nas Lundas e são muito perigosas. Têm todo o tipo de reptéis e outros animais. Pedimos que regressem às suas casas. Isso só demonstra, mais uma vez, a repressão brutal do regime angolano. Como é que a polícia, em vez de deter as pessoas nas manifestações, foi prendê-las nas suas casas?

Ativistas das Lundas vão denunciar violência policial à ONU

DW África: Qual foi a justificação das autoridades para libertar os detidos?

JMZ: Lamentavelmente, em Cafunfo, o Procurador-Geral da República disse que o assunto era político e não tinha nada de questões jurídicas, pelo que não havia como deter ou acusar as pessoas. Se a polícia sabia que o processo era político, porque é que prenderam as pessoas? Porque é que dispararam? É o que todos queremos saber. Queremos denunciar este processo ao Alto Comissariado das Nações Unidas dos Direitos Humanos, à ONU, à União Europeia e outras instituições internacionais para chamar a atenção do regime angolano. O Movimento do Protectorado nunca violentou, nunca fez vandalismo em nenhuma estrutura ou viatura do Estado angolano. Porque é que o Estado tem de usar violência contra os manifestantes?

DW África: As manifestações vão continuar?

JMZ: Sim, não temos outra alternativa. Deentro de 60 ou 90 dias vão ter de sair as manifestações. E vamos comunicar ao Governo, porque o objetivo de toda a nossa luta é o reconhecimento da autonomia do Reino Lunda Tchokwe, que abrange Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico e Cuando Cubango. O próprio Presidente João Lourenço disse que ia começar a negociar e a ouvir a sociedade. Nós somos sociedade organizada e civilizada. Vamos continuar com as manifestações e vão ser muitas.

DW África: A Assembleia Nacional de Angola já emitiu um parecer desfavorável aos vossos objetivos…

JMZ: A Assembleia funciona como uma empresa em que os deputados são os trabalhadores e os ministros são os acionistas. Não estamos a ver uma Assembleia ao serviço de Angola ou dos angolanos. Estão ali para defender o pão deles, o dinheiro e os bens que recebem – e parte disso vem da Lunda.

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