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Angola e Moçambique entre os mais corruptos segundo Transparência Internacional

1 de dezembro de 2011

O novo Índice de Percepção da Corrupção, publicado a 1 de dezembro pela organização Transparência Internacional (TI), coloca Moçambique e Angola no topo dos mais corruptos.

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A Transparência Internacional publica regularmente um Índice de Percepção da Corrupção

A propósito desta classificação, a Deutsche Welle falou com o ativista e defensor dos direitos humanos angolano, Rafael Marques (RM), que considerou que a 168ª posição de Angola num total de 183 países “faz justiça à situação”:

RM –Angola é, de facto dos países mais corruptos do mundo. Há várias denúncias de casos de corrupção com provas apresentadas por cidadãos angolanos. E, regra geral, o Presidente promove aqueles que são considerados os mais corruptos. Dá-lhes toda a proteção política e jurídica para que não sejam responsabilizados pelos seus atos. E o país, de forma bastante clara, está afetado. E isso é visível no quotidiano, na forma como, por exemplo, é quase impossível uma empresa estrangeira investir hoje em Angola sem que tenha um sócio que seja membro do governo ou que esteja ligado à família presidencial. Há uma associação de tráfico de influências.

DW – É uma corrupção que tem impacto também no dia a dia do cidadão comum?

Bürgerrechtlers Rafael Marques. Das Foto stammt von ihm (privat), er hat die Verwendung durch die DW autorisiert. Bitte ins CMS einstellen. Rafael Marques, Bürgerrechtler aus Angola Schlagworte: Rafael Marques de Morais, angolanischer Menschenrechtler, Luanda, Anti-Korruptions-Aktivist Angeliefert von Johannes Beck
Rafael Marques, ativista e defensor dos direitos fundamentaisFoto: privat

RM – Tem um grande impacto. Cito apenas dois exemplos, a Saúde e a Educação. Soube recentemente de um caso, com provas, de uma doação de medicamentos expirados a um hospital por uma empresa estrangeira, e por alguém ligado ao poder que queria fazer uma doação para parecer bem. A empresa estrangeira viu-se na contingência de entregar os medicamentos para continuar a manter os seus contactos em Angola. As pessoas morrem por causa disso.

DW – E a educação?

RM – Hoje, em Angola, os jovens já não querem estudar, porque basta o indivíduo ter dinheiro para comprar certificados. Há casos onde pais até pagam para que crianças da primeira classe passem para a segunda classe. Penso que se a Transparência Internacional tivesse dedicado mais tempo a fazer pesquisa no terreno, a classificação de Angola seria pior do que aquela que lhe foi atribuída agora. Não há outro país onde a corrupção é tão institucionalizada, tão óbvia e incontornável como em Angola neste momento.

DW – Tem a esperança de algum dia ver este fenómeno ser erradicado da sociedade angolana?

RM – Penso que para que os angolanos consigam acabar com a corrupção, e isto tem que ser dito de forma muito direta, é preciso que o Presidente seja removido do poder. Porque ele é o indivíduo que apadrinha a corrupção. Ele sobrevive politicamente através da corrupção. Quando ele sair, será possível instalar em Angola um Estado democrático, com corrupção, mas com leis para a punir os corruptos. Neste momento, as leis são para punir aqueles que não são corruptos.

Symbolbild zur Korruption: Ein Mann im Anzug steckt ein Bündel Dollarscheine in ein Schliefach, wo bereits mehrere Hundert Euro Scheine in seine Tasche. Eingestellt am 13.9.2011. © Gina Sanders - Fotolia.com
A corrupção afeta negativamente toda a sociedadeFoto: Gina Sanders/Fotolia

A propósito da classificação de Moçambique no Índice de Percepção de Corrupção da TI, a Deutsche Welle falou ainda com Baltazar Fael (BF), do Centro de Integridade Pública, uma organização não governamental. Foi desta forma que Baltasar Fael avaliou a 102ª posição de Moçambique:

BF – É uma classificação que já se vem repetindo desde a tomada de posse do atual Presidente da República. O que demonstra que o combate à corrupção em Moçambique está praticamente estacionário. Quer dizer, as medidas que estão a ser tomadas não estão a surtir o efeito desejado.

DW – Na sua perspetiva, que medidas concretas é que deveriam ser tomadas?

Schlagwort: Baltazar Fael, Centro de Integridade Pública - CIP, Mosambik, Gast beim Jahrestreffen des Koordinierungskreises Mosambik (KKM) in Berlin am 21. November 2010 Fotograf: Johannes Beck, DW
Baltazar Fael, do Centro de Intergridade Pública, em Moçambique, exige medidas mais eficientes contra a corrupçãoFoto: DW

BF – Uma medida de que toda a sociedade está à espera é a aprovação do Pacote Anti-Corrupção que já foi remetido pelo Governo à Assembleia da República. Estava prevista a aprovação na última sessão do ano da Assembleia da República. Mas parece que vão ser invocadas questões de tempo, porque é um pacote bastante complexo. Por isso pensamos que este pacote não vai ser aprovado, nem analisado, no escasso tempo que resta a esta sessão. Mas uma das medidas importantes é a sua aprovação, porque o pacote está apto a reduzir tanto a pequena corrupção, a chamada corrupção de rua, como a corrupção ao nível mais alto, das elites políticas, governativas e partidárias.

Autora: Helena Ferro de Gouveia
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha