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EducaçãoMoçambique

Alunos de Sofala têm aulas no que sobrou das escolas

Arcénio Sebastião (Beira)
7 de abril de 2021

Ao menos 300 mil alunos continuam sem salas de aula depois da passagem dos ciclones Idai, Chalane e Eloise. Autoridades reconhecem o problema e pedem solidariedade a professores, alunos e encarregados.

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Mosambik | Schüler nach Zyklon immer noch ohne Klassenzimmer
Foto: Arcénio Sebastião/DW

Os ciclones Idai, Chalane e Eloise, que fustigaram o centro de Moçambique, destruíram total ou parcialmente cerca de três mil salas de aula na província de Sofala. Até ao momento, menos de 500 foram reabilitadas.

Mais de trezentos mil alunos estão sem salas de aula desde março de 2019, aquando da passagem do Idai. A Escola Primária Completa 25 de Junho, por exemplo, localizada no bairro da Munhava, na cidade da Beira, não oferece as mínimas condições de receber os alunos.

"Os trabalhos têm sido muito difíceis. É só imaginar uma sala sem teto, as crianças sentadas ao relento. É difícil porque, para que ocorra o processo de ensino e aprendizagem, existem condições indispensáveis: estar debaixo de um teto, estar sentado numa carteira. São elementos fundamentais para própria motivação da criança", relata Fidel Nicolau, que trabalha na escola.

Outro trabalhador do estabelecimento de ensino, Joaquim Brito João, diz que o sol intenso se torna um desafio tanto para alunos como para professores. "Nos primeiros tempos, têm aulas. Mas quando vai já para o meio-dia, em que o sol é intenso, dispensamos os alunos", lamenta.

Mosambik | Schüler nach Zyklon immer noch ohne Klassenzimmer
Escolas estão a funcionar de forma precáriaFoto: Arcénio Sebastião/DW

Sem condições de aprendizagem

Esta escola foi um dos locais visitados pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, durante a sua visita a Sofala, em julho de 2019.  Nicolau lembra que, na altura, o secretário-geral da ONU disse que que iria fazer de tudo para garantir que a escola fosse reabilitada.

"De lá para cá nem água vai nem água vem. A nossa preocupação como corpo docente é ver de facto a escola reabilitada para que o processo de ensino e aprendizagem ocorra devidamente", explica.

Para Nicolau, nestas condições de trabalho, os professores podem superar as dificuldades e concentrarem-se para dar as aulas, "mas os alunos não corresponderão porque não estão criadas as condições".

Tempos depois, algumas lonas doadas pelo Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (UNHABITAT) serviram de cobertura temporária para salas de aula. Algumas salas e blocos administrativos foram reconstruídos, mas a iniciativa não abrangeu todas as salas.

"Nossos filhos esão a sofrer"

Quem também sofre com a situação da Escola Primária Completa 25 de Junho são os alunos e encarregados de educação. "É muito difícil para os professores. Quando chove, eles vão para casa, deixam os alunos a molhar. Eles têm que pôr teto para os alunos estudarem", diz o professor Beuchito Arone

Mosambik Beira nach dem Zyklon Idai
Ciclone Idai devastou a região da BeiraFoto: Getty Images/AFP/Y. CHiba

Teresa Manuel é mãe de um aluno e não esconde a frustração. "Nós estamos tristes porque nossos filhos estão a sofrer, estão dentro de salas que não têm teto nem nada. Estamos a pedir ao Governo para nos ajudar neste sofrimento", desabafa Manuel.

Os professores temem que a formação da próxima geração possa ser comprometida. Os docentes exortaram o setor de educação a encontrar soluções para o problema.

O que dizem as autoridades

O diretor provincial da Educação em Sofala, Tomas Viageiro, não confirma se o setor recebeu ajuda da comunidade internacional. No entanto, Viageiro assegura que, no âmbito da Covid-19, a UNICEF promete apoiar com mais tendas de modo a permitir a redução do número de alunos em cada sala de aulas.

As autoridades da Educação em Sofala reconhecem o problema e avançam que estão a enfrentar a mesma situação apresentada pela equipa de reportagem da DW África em pelo menos cinco distritos da província - nomeadamente Beira, Dondo, Nhamatanda, Búzi e Gorongosa e Muanza.

Tomas Viageiro garante que, a nível ministerial, há vários esforços para minimizar o problema.

"Houve agora a mobilização de recursos, mas sabemos que esse processo vai levar tempo. Tem que seguir um procedimento técnico para a construção. Enquanto isso, nós estamos a buscar recursos para montagem de tendas", disse.

Viageiro exorta professores, alunos e encarregados de Educação a serem solidários no processo de ensino e aprendizagem.

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