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Africanos reagem a insultos de Trump

Peter Hille | Madalena Sampaio | AFP | AP | Lusa
12 de janeiro de 2018

O Presidente norte-americano usou linguagem vulgar para se referir ao Haiti e a países africanos numa reunião na Casa Branca. As reações não tardaram em África. Donald Trump nega agora ter usado expressão insultuosa.

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Donald Trump num encontro com líderes africanos em Nova Iorque (setembro de 2017) Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Vucci

Numa reunião na Casa Branca, na quinta-feira (11.01), para discutir um acordo para a imigração, Donald Trump questionou os congressistas sobre os motivos pelos quais os Estados Unidos devem receber pessoas de várias nações africanas, que não identificou, de El Salvador e do Haiti, que apelidou de "países de merda" ("shithole countries" em inglês). E perguntou se não seria preferível abrir as portas a cidadãos de países como a Noruega, revelaram meios de comunicação social norte-americanos, como o jornal The Washington Post.

Entretanto, o Presidente dos Estados Unidos já negou ter usado a polémica expressão, mas admitiu ter usado uma "linguagem dura" ao debater as leis migratórias. "A linguagem que usei na reunião [com legisladores norte-americanos] foi dura, mas não usei essas palavras", escreveu esta sexta-feira Trump no Twitter. 

Belas paisagens para Trump

A notícia causou muita indignação mundial. Em África, a revolta espalhou-se pelas redes sociais, com Trump a ser acusado de racismo e ignorância. Muitos utilizadores africanos publicaram imagens de bonitas paisagens dos seus países e de modernos arranha-céus – tudo ironicamente acompanhado pela hashtag #ShitholeCountries.

"Sou um filho orgulhoso de um continente brilhante chamado África. África NÃO é nenhum #shithole, Mr. Trump", escreveu no Twitter o atleta e recordista queniano Bernard Lagat, que se tornou cidadão norte-americano em 2004. 

Vários governos do continente classificaram os comentários como "racistas". Na África do Sul, o Congresso Nacional Africano (ANC), o partido no poder, considerou "extremamente ofensiva" a afirmação de Trump. "Há milhões de pessoas desempregadas nos EUA, milhões de pessoas que não têm serviços de saúde ou acesso à educação e também não gostaríamos de fazer comentários tão depreciativos como esse", declarou Jessie Duarte, vice-secretária-geral do ANC.

No Botswana, a chefe da diplomacia, Pelonomi Venson-Moitoi, escreveu no Twitter que o comentário de Trump é um "terrível golpe" nas relações diplomáticas com os Estados Unidos. Segundo o governo, o embaixador norte-americano no país foi convocado para esclarecimentos.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Uganda, Henry Okello Oryem, afirmou que os comentários de Donald Trump foram "infelizes e lamentáveis".

Houve igualmente protestos no Sudão do Sul, onde o porta-voz do Presidente Salva Kiir, Ateny Wek Ateny, definiu os comentários como "ultrajantes".

Quadros de Trump feitos no Quénia

Críticas da União Africana e da ONU

A União Africana (UA) disse estar "francamente alarmada" com as declarações do Presidente norte-americano. A porta-voz Ebba Kalondo considerou as afirmações de Donald Trump inaceitáveis tendo em conta a realidade histórica e a quantidade de africanos que chegou aos Estados Unidos como escravos.

"Isto é particularmente surpreendente, já que os Estados Unidos da América continuam a ser um exemplo global de como a migração deu origem a uma nação assente em valores fortes de diversidade e oportunidade", sublinhou. Ebba Kalondo disse que a declaração "prejudica os valores globais partilhados sobre diversidade, direitos humanos e compreensão recíproca".

Também a ONU considerou "chocantes", "vergonhosas" e "racistas" as declarações de Trump. "Se for confirmado, são comentários chocantes e vergonhosos da parte do Presidente dos Estados Unidos", declarou o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUR), Rupert Colville, numa conferência de imprensa, em Genebra.

"Não se trata apenas uma questão de vulgaridade de linguagem", assinalou Colville. "Estas declarações mostram o "pior lado da humanidade, validando e encorajando o racismo e a xenofobia", afirmou o porta-voz.