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A ligação dos rebeldes das FDLR à Alemanha

Hilke Fischer / hfg6 de junho de 2016

A Alemanha foi durante muitos anos uma espécie de "segunda casa" para as Forças Democráticas de Libertação do Ruanda. O chefe da milícia viveu no sudoeste alemão até ser detido, em 2009.

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Combatente das FLDR no leste do CongoFoto: DW/S. Schlindwein

Como é possível que uma milícia radical, racista, que comete crimes de guerra e crimes contra a humanidade no Congo se identifique com a Alemanha? Esta questão inquietou Simone Schlindwein, que vive no Uganda e faz reportagens no leste do Congo há anos. A jornalista encontrou-se por várias vezes com combatentes das Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR). "Muitos deles apoiam o Bayern de Munique ou o Estugarda, todos conhecem [a chanceler] Angela Merkel. Alguns até falam alemão", conta Schlindwein. O FDLR sente-se ligado à Alemanha e esta é uma história longa.

O chefe da milícia, Ignace Murwanashyaka, a quem chamam "Presidente", chegou à Alemanha em 1980 com uma bolsa de estudos e frequentou a Universidade de Bona. Mais tarde, recebeu asilo por causa da perseguição política no seu país de origem. Até ser detido, em 2009, Murwanashyaka viveu tranquilamente em Mannheim, no sudoeste da Alemanha.

Juntamente com o seu vice, Straton Musoni, o "Presidente" controlava o FDLR a partir da Alemanha via SMS, e-mail e telefone satélite.

Ruanda Deutschland Ignace Murwanashyaka im Gerichtssaal in Stuttgart
Ignace Murwanashyaka foi condenado a 13 anos de prisão na AlemanhaFoto: imago/epd

Num novo livro, lançado esta segunda-feira (10.04), Simone Schlindwein e outros dois autores, Dominic Johnson e Bianca Schmolze, abordam um dos processos mais complexos da história da Justiça alemã. O livro dá pormenores sobre as estruturas internas da FDLR e sobre os assassinatos, violações e saques que os combatentes da milícia levaram a cabo ao longo de duas décadas no leste da República Democrática do Congo. Aborda ainda o genocídio no Ruanda em 1994, que levou à fuga de milhares de hutus militantes para o leste do Congo, criando ali as FDLR. Os autores escrevem também sobre a história colonial do Ruanda, que lançou as bases para o genocídio, uma vez que foram alemães e belgas que definiram quem era hutu e quem era tutsi.

Processo na Alemanha

Em setembro de 2015, o Tribunal Superior de Estugarda condenou Murwanashyaka a 13 anos de prisão, Musoni recebeu oito anos.

O processo contra a liderança das FDLR na Alemanha durou quatro anos e meio.

Foi um desafio enorme para o tribunal alemão obter testemunhos, apesar de ser assegurado o anonimato das vítimas, como a testemunha Z6: A cidadã congolesa contou em tribunal que foi esfaqueada com uma baioneta na coxa e, em seguida, violada enquanto o seu marido, amarrado, teve que assistir. A filha de 13 anos de idade foi sucessivamente abusada sexualmente por cinco combatentes das FDLR. Em seguida, os milicianos sequestraram a família e fizeram da mãe escrava sexual. Depois de sete meses, ela conseguiu escapar.

Apesar das dificuldades em reunir provas e entrevistar testemunhas, o processo na Alemanha foi um sinal extremamente importante, salienta Simone Schlindwein.

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"As FDLR sempre viram a Alemanha como um parceiro, como um irmão mais velho, como o país de origem", diz. "O processo deu um sinal claro de que eram intoleráveis os crimes cometidos no Congo e orquestrados a partir da Alemanha."

Quando Murwanashyaka e Musoni foram presos, em 2009, em poucas semanas cerca de 1.200 combatentes das FDLR depuseram as armas. A milícia está extremamente enfraquecida embora continue a cometer crimes, afirma a jornalista.

O exército congolês lançou em fevereiro de 2015 uma ofensiva militar contra as FDLR e, em meados de maio, prendeu um alto comandante da milícia. A pressão militar e as disputas internas poderão ditar para breve o fim das FDLR no Congo.

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