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É preciso uma cultura de reconciliação em Moçambique, diz sociedade civil

Romeu da Silva (Maputo)2 de dezembro de 2014

Passaram 22 anos desde o Acordo de Paz de Roma, mas, segundo académicos, analistas políticos e líderes religiosos, ainda é preciso desenvolver uma cultura de reconciliação para evitar novas crises político-militares.

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Armando Guebuza (esq.) e Afonso Dhlakama após a assinatura do acordo de cessar das hostilidades (setembro de 2014)Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images

Em Moçambique ainda não há uma cultura de reconciliação, afirma Lourenço do Rosário. Para o académico moçambicano, isso pode fazer com que o país volte a viver um novo período de instabilidade político-militar.

Segundo Lourenço do Rosário, nas últimas duas décadas, depois do Acordo Geral de Paz de Roma de 1992, os moçambicanos perderam a oportunidade de criar essa cultura de reconciliação. "Pensámos que poderíamos passar por cima disso, exercitando formalmente os mecanismos de democracia - realizando eleições de tempos a tempos, formando Governos ditos democráticos... Mas sem essa tolerância social estamos permanentemente a prepararmo-nos para a guerra", afirmou.

Durante um ano e meio e até ao final de agosto deste ano, Moçambique foi palco de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido de oposição.

Moçambique, país de esperança e oportunidades

Lourenço do Rosário Mosambik
Académico moçambicano Lourenço do RosárioFoto: DW/J. Carlos

"O que mais me entristece é o facto de nós, moçambicanos, ainda não nos termos conseguido olhar nos olhos e, depois, ir tomar um copo juntos", disse Lourenço do Rosário na estação de televisão privada STV. Isso apesar de Moçambique ser um país de esperança e de oportunidades, razão pela qual há muitos investidores, referiu o académico.

No entanto, ainda restam alguns sinais de reconciliação, considera o reverendo Marcos Macamo, do Conselho Cristão de Moçambique. "É importante valorizar todos os atores deste processo e que cada um se empenhe verdadeiramente naquele que é o seu papel", disse em entrevista à DW África.

Reconciliação nacional por um fio?

Segundo Marcos Macamo, a reconciliação nacional está por um fio e a causa disso é a perda de auto-confiança dos líderes políticos: "A nossa atitude pode colocar em perigo todos os avanços alcançados até aqui. Algo que leva três a quatro anos a ser construído pode ser totalmente destruído em menos de um ano. Nós temos essa experiência, mais do que ninguém. É essa a razão que nos leva a solicitar uma maior abertura e inclusão na resolução dos problemas do país."

Já o analista político António Boene entende que, se não houvesse essa cultura de reconciliação, Moçambique estaria a viver momentos mais difíceis. "Nota-se que não houve nenhum ato que pudesse consubstanciar uma espécie de vingança por alguém que eventualmente tenha sofrido alguma mazela devido ao conflito anterior a 1992. Isto demonstra, atualmente, que o povo moçambicano tem esta grande capacidade de perdoar."

Aproveitar as diferenças para obter dividendos políticos

Mas António Boene, sem citar nomes, refere que há pessoas que tentam aproveitar as diferenças que existem na sociedade para tirar proveito político.

"Não devemos permitir que alguém nos separe. Temos de começar a praticar atos que nos possam unir cada vez mais. Esta união deve significar perdão, reconciliação. Trata-se, acima de tudo, de aceitar que, apesar das nossas diferenças, cada um de nós pode, à sua maneira, contribuir para o engrandecimento deste país", diz Boene.

Em Moçambique, o Conselho de Ministros aprovou em novembro o decreto que cria o Fundo de Paz e Reconciliação Nacional. Estimado em 10 milhões de dólares anuais, o fundo destina-se a financiar projetos económicos e sociais dos desmobilizados do conflito armado, bem como dos antigos combatentes e veteranos da luta armada, a título reembolsável.

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