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Migração, o sonho de viver na Europa – Parte 3 – Mulheres africanas

Carla Fernandes15 de junho de 2013

Trabalhar num país estrangeiro é um desafio. A reportagem da DW apresenta três mulheres africanas que contam como enfrentam esse desafio na antiga capital da Alemanha Ocidental, Bona.

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Luísa João Pedro na sua loja em BonaFoto: DW/C.Fenandes

Francine Toé-Bender, Mary Anni e Luísa João Pedro vieram de países africanos diferentes mas têm experiências de vida profissional semelhantes. Cada uma delas teve de se impor no mercado de trabalho na Alemanha.

Uma mulher de negócios

Luísa João Pedro, é natural do enclave de Cabinda, território angolano, e é proprietária de uma loja de produtos africanos. A angolana, que sempre trabalhou por conta própria, veio para a Alemanha com os seus filhos como refugiada em 1992, "quando rebentou a guerra no meu país. Mas os alemães receberam-nos muito bem. Não tínhamos problemas."

Luísa conta que, inicialmente, a sua família viveu na cidade de Idar-Oberstein, no estado alemão Renânia-Palatinado, onde recebia comida, roupa e dinheiro. Mas quando, em 1999, o seu marido veio de Angola para juntar-se à família, eles decidiram tentar a sorte e entrar no mercado de trabalho. Dessa forma deixariam de depender do estado alemão."Então ele [o marido de Luísa] começou a trabalhar e (...) eu disse: 'eu vou tentar conseguir fazer a minha loja. E tentei."

Luisa Pedro Joao Besitzerin von einem Afroshop in Bonn
Luísa João Pedro na sua loja em Bona, com produtos variadosFoto: DW/C.Fernandes

Um pouco de África para todos

Mas foi graças ao emprego do marido que Luísa conseguiu um empréstimo para abrir a loja, onde Luísa João Pedro vende variados produtos. "(...) não é porque sou angolana que vou só vender comida angolana. Tenho de ter comida árabe, paquistanesa, do Uganda, do Gana, Nigéria. Há muitas coisas que os nigerianos comem e nós lá em Angola não comemos, mas tenho de vender." O único problema para a proprietária da loja de produtos africanos, são os montantes que tem de pagar pelos impostos. "Mas por acaso não estamos mal.", diz Luísa.

Sabores e dissabores de África

Mas mais sabores de África é o que proporciona o restaurante de Mary Anni, que se chama "Africano" e oferece, principalmente, pratos típicos do Quénia.

No entanto, para a queniana, gerir o seu negócio tem sido também uma fonte de dissabores.

Restaurant "Africano" in Bonn
Fachada do restaurante "Africano" em BonaFoto: DW/C.Fenandes

Mary Anni nunca casou mas tem dois filhos com um alemão que a ajudou com a papelada necessária para abrir o seu restaurante e ainda ajuda na educação das crianças. O facto de ser mãe solteira e, mesmo assim, ter conseguido manter um negócio, desperta sentimentos de inveja na comunidade africana.

"As mulheres africanas têm tantos ciúmes... porque elas temem que eu tenha aberto o restaurante para que os maridos delas venham e comam aqui e que vão perder o marido, ou que o marido não vai voltar para casa. 'Ela vai nos tirar os maridos' Esse é o problema das mulheres africanas aqui.", conta a queniana de 50 anos.

O trabalho dignifica a mulher

Mary Anni é uma mulher de baixa estatura, robusta e de temperamento forte. Ela fala com sentimentos mistos de tristeza, amargura e frustração. "Eu estou orgulhosa do meu país porque sei de onde venho e onde pertenço e eles são fortes. Mas não são como os africanos que estão aqui em Bona, na Alemanha. Eles são tão arrogantes e não sei de onde vêm.", conta.

Mary Anni besitzerin eines Afro-restaurant
Mary Anni proprietária do restaurante "Africano", a preparar um prato típico do QuéniaFoto: DW/C.Fenandes

Migração, o sonho de viver na Europa - Parte 3 - Mulheres africanas

Mary abriu o seu restaurante em 2008, mas sempre fez questão de trabalhar sozinha. O seu restaurante pequeno. Tem apenas duas mesas de madeira com 5 cadeiras de metal cada. A decoração nem sempre é harmoniosa mas a cor verde clara dá luz ao ambiente escuro do local. Algo que mais se assemelha a um bar típico alemão. No entanto, as bandeiras do continente africano, pintadas pela própria Mary, que enfeitam uma das paredes do restaurante lembram o aconchego de África. E a televisão está quase sempre ligada enquanto Mary atende os clientes.

É difícil gerir o negócio, diz Mary. Mas ela quer ser um exemplo para os seus dois filhos, uma menina de oito anos e um rapaz de treze. "Há algumas mulheres que não gostam de trabalhar mas isso é estúpido. Tens de trabalhar para teres uma história para contar aos teus filhos. (...) Isso faz com que as crianças tenham respeito por elas próprias e tenham uma história que possam contar às pessoas na escola ou em qualquer lado."

Ao encontro do amor

Francine Toé-Bender tem uma história diferente da de Mary Anni e de Luísa João Pedro que trabalham por conta própria e vieram para a Alemanha por causa de dificuldades nos seus países. "Vim para Bona por amor, porque o meu marido vem desta região.", conta a assistente dos serviços internacionais da universidade de Bona. Francine é natural do Burquina Faso e já conhecia várias cidades da Europa antes de se mudar definitivamente para a Alemanha.

Fancine Toé- Bender Uni Assistentin
Fancine Toé-Bender assistente dos serviços internacionais da universidade de BonaFoto: Miriam Bender

Para Francine Toé-Bender, o mercado de trabalho na Europa e, mais especificamente, na Alemanha, é mais interessante do que em África, onde, segundo ela, para se arranjar um emprego, às vezes, tem de se conhecer alguém. Na Alemanha ela só teve de confiar nas suas capacidades para conseguir o que queria em termos profissionais.

Receita para o sucesso

"Não foi difícil. Fiz uma nova formação de 6 semanas através da Agência de trabalho, para voltar a entrar no ritmo na Alemanha. E, finalmente, fiz um estágio na Universidade de Bona. No final do meu estágio abriu uma vaga aqui nos serviços internacionais. Enviei a minha candidatura e fui convidada para uma entrevista e fui aceite."

Francine aconselha as mulheres africanas que vêm para a Europa a qualificarem-se. "Devem começar de imediato a aprender a língua, caso não a dominem, e definir os objetivos desde o início. E independentemente das dificuldades devem tentar atingi-los."

Gebäude Uni Bonn Internationales Zentrum
Escadas do edifício onde Francine Toé-Bender trabalha - Centro de serviços internacionais da universidade de BonaFoto: DW/C.Fenandes

Para além dos estigmas

Luísa João Pedro veio de Angola para a Alemanha como refugiada e nunca estudou. Ela chega mesmo a duvidar que experiências como a de Francine Toé-Bender, sejam possíveis. "Porque aqui não há mulheres angolanas [por exemplo] que vão trabalhar em gabinetes, porque não estudámos. Mesmo que tragas um papel a dizer que 'estudei em Angola, fiz medicina', aqui não te vão receber. (...) Tens que ir trabalhar como lavadeira, fazer limpezas (...) É por isso que me veio à cabeça, fazer uma loja e pronto."

Mas a queniana Mary Anni lembra que "quando se quer abrir um negócio aqui [na Alemanha] tem de se ser forte. Como eu, eu fiz, consegui. Se sabes realmente o que queres, faz a coisas certa no momento certo."

Determinação e trabalho árduo foram essenciais para Mary Anni, Luísa João Pedro e de Francine Toé- Bender serem bem sucedidas no mercado de trabalho alemão.

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